terça-feira, 27 de setembro de 2016

Por que alguns pacientes ganham peso após cirurgia bariátrica

Como trabalho com pacientes em pré e pós operatório de cirurgia bariátrica, percebo que esta é uma preocupação constante dos pacientes, sobre o medo do reganho de peso. E por que isto acontece? Muitos podem pensar que é simplesmente uma questão de descuido do paciente, falta de cuidados com alimentação, atividade física, porém a questão é muito mais complexa.
A perda de peso costuma ser máxima aos 18 meses de pós operatório e tende a diminuir em longo prazo. Entre 5 e 30% dos pacientes recuperam peso, principalmente entre os obesos mórbidos.
Um estudo publicado recentemente na revista Obesity Surgery, mostrou a relação do hormônio gastrointestinal GLP1 com o ganho de peso no pós operatório.
Num estudo com 24 pacientes da USP, que foram acompanhados de 27 a 59 meses após a cirurgia. Esses pacientes mantiveram uma dieta controlada, com aproximadamente a mesma quantidade calórica, e tiveram seus hormônios GLP1 dosados. Os pacientes que não tiveram ganho de peso significativo, apresentavam índices de GLP1 consideravelmente maiores do que no grupo que ganhou mais de 50% do peso corporal após a cirurgia. Este hormônio é secretado pelo estômago e intestino, e sua produção é controlada por fatores neurais, endócrinos e o contato com o próprio alimento, sendo um dos responsáveis pela sensação de saciedade.
Neste estudo também observaram o hormônio GIP (Polipeptídeo Insulinotrópico dependente de Glicose), que apresentou alterações semelhantes ao GLP1.
A Grelina, hormônio responsável pela sensação de fome, não teve diferença entre os grupos, e a Leptina, hormônio responsável pela sacidade, foi maior no grupo que teve maior ganho de peso (possivelmente porque as reservas energéticas deste grupo eram maiores).
Todos estes dados encontrados neste estudo deixam claro que a influência hormonal é muito importante no reganho de peso dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, e talvez abram novas possibilidades para o futuro, buscando avaliar o perfil hormonal dos pacientes, até mesmo antes da cirurgia, e desta forma, tentar um trabalho mais direcionado para aqueles com maior chance de ganhar peso após o procedimento.
Uma ótima semana a todos!

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O que é terapia cognitivo-comportamental?

Como trabalho com esta linha de psicoterapia e muitas pessoas não sabem exatamente o que é e como funciona, vou aproveitar o post de hoje para explicar um pouco melhor.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma linha de psicoterapia desenvolvida pelo psicólogo Aaron Beck, que tem o objetivo de ser uma terapia mais breve, mais focada em resolução de problemas.
Funciona resumidamente assim: na sessão, o terapeuta encontra as cognições (pensamentos) disfuncionais do paciente, ou seja, a queixa que o paciente traz à terapia, por exemplo "sou incompetente", "ninguém me ama". Começamos a trabalhar com o paciente essas crenças disfuncionais que ele tem através de várias técnicas fazendo, assim, com que ele tenha crítica (ou seja entenda), que este pensamento não condiz exatamente com a realidade. Concomitante com este trabalho cognitivo (nos pensamentos do paciente), trabalhamos mudanças comportamentais, que muitas vezes servem de reforçador para manter essas crenças incorretas que ele tem acerca de si ou dos outros.
É um trabalho bastante motivador, que só é possível mediante uma parceria forte entre paciente e terapeuta, pois cabe ao paciente realizar tarefas de casa, expor-se a situações para fazer enfrentamentos do problemas. Neste processo o paciente assume um papel central, no qual ele é o principal agente para que a mudança ocorra.
Se você se interessou e quiser saber mais pouco mais sobre esta linha de psicoterapia, fico à disposição para maiores esclarecimentos.
Uma ótima semana a todos!

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Emergência psiquiátrica: o que fazer?

Bom dia, amigos. 
Hoje vim falar de um tema muito pertinente, que é a emergência psiquiátrica. Em primeiro lugar, você sabe o que é uma emergência psiquiátrica? Emergência médica, por definição, é uma situação em que há ameaça iminente à vida, sofrimento intenso ou risco de lesão permanente. As situações de emergência requerem intervenção médica de imediato. 
Na psiquiatria, as principais situações que caracterizam essa condição de risco à vida, estão relacionadas com ideação, planejamento ou tentativa de suicídio, quadros psicóticos, nos quais o indivíduo perde o contato com a realidade, e também pode atentar contra sua vida ou de outra pessoa, situações de agressividade física, que pode estar voltada para si mesmo (autoagressões) ou para terceiros (heteroagressões). O que há em comum em todos estes quadros é que se não for tomada uma medida rápida, este paciente pode fazer algum mal a si mesmo ou aos outros, ocasionando lesões permanentes ou até mesmo a morte.
Nestas situações, a primeira medida que o familiar ou acompanhante deve tomar é levar o paciente para um serviço de pronto atendimento (de preferência psiquiátrico). Existem diversas clínicas e hospitais psiquiátricos em Curitiba que realizam atendimento 24 horas por dia, sem a necessidade de agendamento prévio. Nestas situações, o paciente passará por consulta com um psiquiatra, que de acordo com a gravidade do caso, poderá apenas realizar uma intervenção medicamentosa, ou até mesmo já indicar o internamento psiquiátrico. Estas clínicas geralmente oferecem atendimentos particulares ou por convênios médicos.
No caso de pacientes que não possuem planos de saúde, devem buscar atendimento pelo SUS, o qual se dá da seguinte forma: o familiar deve levar o paciente a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), que são os pronto atendimentos que funcionam 24 horas por dia pelo SUS. Lá o paciente será avaliado por um clínico geral, que de acordo com a gravidade do quadro, além de medicar o paciente, já pode encaminhá-lo para internamento psiquiátrico, para algum hospital que atenda pelo SUS, via central de leitos.
O mais importante nestes casos é a rapidez de ação. Na dúvida, se o paciente está grave o suficiente para ir para um pronto atendimento, melhor levá-lo, para ser avaliado por um médico capacitado para definir a gravidade do quadro e dar o melhor seguimento para o paciente.
Espero que essas orientações possam ser úteis e ajudar muitos pacientes e familiares.
Um abraço!  

terça-feira, 5 de abril de 2016

Um brilhante texto!!!

Meu post de hoje, não é meu! Vou colocar aqui um belíssimo texto de um paciente, uma pessoa inteligentíssima, um artista, e que escreveu este lindo texto, mostrando sua enorme sensibilidade:

75 anos, literalmente uma vida inteira.

Olhe para o tempo de sua vida, para o tempo que
lhe pede respirar.
Reflita, sobre a rapidez que 75 anos podem passar
ou a demora inacabável que séculos e séculos
durariam menos que os 75 anos.
Pois então! Um grupo de pesquisadores resolveu,
simplesmente responder a perguntinha mais
simples e também o único questionamento
unanime do ser humano.
Onde está esta tal felicidade? Completo no que se
cala em todos quando fazem esta pergunta a si
mesmos. A verdadeira pergunta, no silêncio do seu
quarto, na alegria do sorriso de filho, na doce
lembrança de um amor, na amargura e angústia da
perda de um amor, na falência múltipla da vida, ou
na falência múltipla dos órgãos, a morte. Qual a
verdadeira pergunta que fazemos? Definitivamente
não é onde nem quando nem de que forma e
quanto custa esta tal felicidade. A pergunta que
fazemos é: O que? Quem? E de que forma eu sou
feliz?
Todos nós temos a resposta, mas precisam vir um
bando de loucos fazer o maior estudo cientifico da
história durante 75 anos, uma vida inteira
monitorando e avaliando 724 seres humanos deste
1938 para chegar em 2016 e falarem o que todos
nós sabemos. A felicidade muda de acordo com a
maturidade. Mas o principal, 100% das pessoas
pesquisadas, repito durante 75 anos, que tinham
boas relações, que foram amados, e souberam
amar, que não se perderam em casamentos
fracassados, em amizades egoístas, em trabalhos
que se tornaram mais importantes do que
relacionar. Em síntese entenderam uma das
maiores verdades. È melhor ser do que ter!
Completo de novo o silêncio das entre linhas. Na
verdade é: É melhor ser com quem entende o que
sou, aí sim será melhor ter para gastar com quem
me entendeu, me leu, me sentiu, não me julgou e
principalmente me aceitou como sou!. E para isto?
É preciso relacionar, arriscar, errar, aprender,
ensinar. E trocar o seu ser humano com o ser
humano de outro. É olhar para suas relações como
dádiva, mesmo as que te deixaram cicatrizes
horrorosas, ou feridas abertas para a vida toda. Ser
feliz é relacionar –se, é ter a coragem de enfrentar o
erro de ter avaliado mal não a outra pessoa, mas a
sim você por ter se enganado.
Onde está a felicidade?
Na capacidade que temos de aceitar os fracassos e
sucessos da vida. Parece frase de efeito, pronta!
Mas peço licença para mais uma vez ler as
entrelinhas do que realmente sabemos e não
assumimos.
A felicidade está em   ter coragem de assumir que
estar vivo é buscar se acolher no outro e para isto
se faz necessário, descobrir que não é o outro que
não é bom. Ele apenas não se encaixa na sua
felicidade. E Isto acontece com a mesma relação
durante um tempo nesta mesma vida. Não é
porque se casou que depois de 10 anos esta pessoa
servirá ou completara ou existira para sua plena
felicidade.
Se somos seres em constante evolução e
transformação, não podemos exigir dos que nos
cercam que sejam o que sempre foram quando os
conhecemos.
Se me permito neste momento arriscar uma
síntese. Seria esta:
Para ser feliz, basta reconhecer se as relações que
escolheu ou que estar a escolher, são relações que
te completam ou são relações que completam
quem te vê. Seja este observador, seus pais, filhos,
patrões, sociedade, Deus, e quem quer que seja.
Ser feliz é permitir que já que sou aquilo que você
não vê, toma a chave do meu coração e me estude.
E se tudo der errado, tudo bem, ou você não gosta
da matéria que estudou, ou é tão expert que não se
impressionou, tudo bem! E se gostou, que bom,
Tudo bem! E nem que eu sofra por isso e nem que
você seja culpada ou julgada por isso.
 Mas por favor se for ou não usar esta chave que lhe
dei em confiança, faça a devolução ou a cópia dela
com carinho e responsabilidade porque do
contrário fara que minha felicidade se transforme
em tristeza. E tristeza é tudo que acreditei que iria
me fazer feliz, e não o fez. Portanto te peço os que
estão em minha vida e os que virão. Faça com
amor, faça parte, seja um catalizador para a minha
felicidade. Te garanto! Tudo que posso lhe dar em
troca, é contribuir com todo o meu ser para sua
Felicidade.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O estigma do doente mental: da novela ao mundo real

Em pleno ano de 2016 parece ilógico ainda estarmos falando do estigma sobre a doença e o doente mental. Mas ainda é uma forte realidade.
Assistindo à reprise da novela Caminho das Índias, que foi ao ar em 2009, vejo claramente como o estigma de uma mãe que tem o filho doente, diagnosticado com esquizofrenia (o personagem Tarso, brilhantemente interpretado pelo ator Bruno Gagliasso ), é maléfico ao paciente, agrava sua doença e torna quase impossível a ressocialização do mesmo. Sendo a personagem da mãe, uma socialite, sempre nas revistas, eventos sociais, ela prefere esconder o filho em casa, minimizar o problema de saúde dele, chamando de estresse, do que reconhecer que o mesmo seja portador de uma doença mental crônica. E pasmem, vejo isso quase todos os dias no consultório, hoje em dia. Pais, cônjuges, que preferem fingir que nada está acontecendo, que falam coisas do tipo "meu parente não vai tomar essas porcarias que viciam, que fritam o cérebro".
Justamente tentando vencer esta barreira que dificulta o tratamento da doença mental, que utilizo este espaço como ferramenta de conhecimento e de esclarecimento. Somente encarando a doença mental de frente, como uma doença crônica, que necessita de tratamento, muitas vezes medicamentoso e psicoterápico associados, que podemos chegar à uma melhor estabilidade do paciente, e assim, recuperar sua autoestima e dignidade.
Vamos dizer não ao preconceito contra o doente e a doença mental.
Até a próxima!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Qual o segredo da felicidade?

Bom dia leitores, e em primeiro lugar, feliz ano novo. Nossa primeira postagem do ano, e espero que seja um ano no qual possamos trocar muitas ideias por aqui.
Nada melhor do que aproveitar o começo do ano para tentar achar a fórmula mágica que nos deixará sempre feliz. Seria bom se existisse né?
Existe um grupo de psiquiatras em Havard, que está fazendo um estudo há 75 anos, acompanhando o mesmo grupo de homens, na época inicial, em médio com 18 anos, e atualmente octogenários, com o objetivo de descobrir o que os tornou, ou não, felizes, ao longo da vida.
Muitos podem estar pensando que a resposta está relacionada com dinheiro, fama, trabalho... Muito longe disso!
A reposta encontrada para o que traz felicidade, de fato, plena e duradoura, são os laços sociais, sólidos, duradouros ao longo da vida. Tem um companheiro, ter um grupo de amigos, familiares próximos, sair com eles, sorrir! Isso é que garantirá a real felicidade. Os laços que você for construindo, ao longos dos trita, quarenta, cinquenta anos, irão predizer a qualidade da velhice que você terá. Mesmo pessoas doentes, com dores, quando tem uma boa rede social, pessoas para compartilhar suas emoções, suportam as adversidades mais facilmente.
E você, tem investido nas suas relações sociais? Talvez este seja o caminho para ser plenamente feliz.
Um ótimo 2016 a todos, principalmente com muita felicidade e saúde!